. Espaço operário
Nascemos operários
Vivemos operários
Criamos operários.
Não sabem o nome de quem criou
o maior prédio do Brasil.
Sabem o nome de quem assinou
Mas não quem de fato construiu.
Operários, descartáveis e sem nome.
Português, italiano, alemão, iorubá, sei lá!
Do que adianta o orgulho, se seu sobrenome só serve para as marmitas, separar?
Hum! Que delícia! Marmita fria!
O cheiro de querosene, tijolos amontoados e quem sabe, talvez, uma coca quente.
Caso não, a melhor opção se tornou o tang de limão
quem trouxe, não tem necessidade saber
Mas sabe, é importante ter.
É importante trocar
É importante conversar.
Pois sem brigas, somos o oposto do querem que "semos".
Já não basta ser conhecido por comer bastante, imagine agora,
por brigar feito cachorros sarnentos…
Enfim, tem uma placa nova na rua
Pode ter demorado, mas os daqui
sempre pro outro lado da cidade são levados
onde é mais importante. Onde tem mais dinheiro
Lá onde as placas novas, são velhas
pois nunca falharam, e em nenhum momento precisaram de uma terceira.
Assim continuam, operando,
cérebro, dedos, e desespero. Já foi no mercado em dia de pagamento?
Operando caixas, continuamos na faixa, somos sempre
os mesmos
Talvez, neste momento, não exista reaça.
Continuamos operários, graças a Deus,
independente do quanto paga o patrão meu
do quanto ganham os filhos seus
de como e onde, foi o enterro meu.
Operários continuamos, vivendo e crescendo, criando…
Criamos novos operários, assalariados, negados e bastante amparados
amparados pelo Direito, que nos sufoca sem veneno
das faculdades da vida, das letras e do desespero
Continuamos operários, mesmo depois de três diplomas no armário.
Esse é nosso espaço
Esse é nosso legado.
Operamos, fazemos, e lecionamos.
Tudo só está ali, no seu devido lugar…
Por que ainda continuamos.
Escrito em 2024.
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Fotografia do autor, São Paulo, 2023.
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