. Fotografias
Eram dias comuns daquela segunda década dos anos 2000. Eu e o Vitor Punk sempre encontrávamos um motivo para fumar um baseado ou tomar umas doses de São Francisco. Era raro conversarmos sobre assuntos aleatórios, realmente raro. Era sempre skate e coisas relacionadas a essa cultura. Mas dificilmente poderia faltar a erva.
E enquanto fumávamos, e comentários se tornavam conversas, o Punk um dia me perguntou:
Cara, você gosta mais de vídeos ou de fotos?
Eu não tinha uma resposta para aquilo na hora, pois realmente não me importava com imagem, apenas com a minha passada pessoalmente as pessoas. Depois daquela questão, eu realmente me questionei sobre o poder, e a arte das imagens. Para Vitor, ele preferia as fotografias, pois segundo ele, elas registram o momento, e isso no skate, é mágico. É impressionante, aliás.
Como eu fui um cara que aprendeu tudo que podia sobre o skate na rua, naquela época eu ainda não tinha muita noção de como o mundo das imagens eram valiosas na cultura do skate. E depois daquele “papo de maconheiro”, eu comecei a prestar atenção em todos os detalhes do meu “rolê”. Começou a fazer mais sentido mandar determinadas manobras e em determinados lugares. Quando comecei a olhar as revistas e principalmente os vídeos de skate, começou a fazer mais sentido ainda, de que como, parecia que o “que eu pensava em cima daquele carrinho era mesmo muito parecido com o que as pessoas daquelas imagens também pensavam”.
Sei lá! Pode continuar parecendo um papo de maconheiro para quem não é dessa cultura, mas quando você chega pela primeira vez num pico clássico, todo skatista reconhece essa sensação. Sendo assim, comecei a preferir as fotografias também, apesar de um determinado dia começar a gostar de fazer edições de vídeos.
Mas para mim, paralisar o exato momento em que uma manobra é feita, significa duas coisas: A primeira, é que não posso provar que realmente acertei a manobra, mas posso provar que estava vivo naquele momento; A segunda, são os detalhes do movimento, a precisão da imagem.
É como disse o Vitor naquele dia, fotografias registram o momento, e se não fosse por ele, como eu poderia provar tantas fases em nossas vidas? A fase rua, a fase local da capivara, a fase do downhill, a fase das ramp e dos bowl, enfim… Nossas vidas mudaram, e continuam a mudar, é assim que o tempo funciona. E se tem um momento registrado, paralisado em imagem que poderia provar essas mudanças, é do dia em que fomos até a república do Cêre. Tinha um tambor e uma mesa lá, enfim, sei lá porque, mas de qualquer forma, aquela imagem representa, de fato, um momento de transição em nossas vidas. Cada um se distanciando cada vez mais de uma longa jornada de amizade e skate.
Isso foi a uma década atrás. Como eu sei?
Fotografias.
Escrito em 2024.
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