.Me canso
Quanto mais tento ser bom,
menos lúcido fico.
Quanto mais velho me vejo,
menos bom me torno.
Me canso da sociedade,
mas continuo pela cidade.
. Poesia para não ser popular
Poesia não popular, espero que não suba no palanque
literalmente ociosa a ponto de se tornar irritante
irrita os idiotas, faz pensar alguns que até gosta
no interior até vira prosa, no papel apenas goza.
Poesia não popular, não cita gente bonita, nem políticos, nem deuses no altar
como psicograficas, vem das mãos de quem cria
vem da experiência da quem vê,
nada de maravilhoso, como mostram as tvs.
A poesia é marginal, aliás, o próprio ser humano também é
só passamos pelas bordas
só enxergamos entre as portas.
Na mira de fardas e cones listrados.
Nós poetas passamos despercebidos entre as avenidas e seus carros.
. Pedras preciosas
Não mais vivemos em comunidade
sobrevivemos em sociedades
soldados fardados de tanta alienação e contrastes
prédios esculpidos por mãos que não sobrevivem e administrados sem presença
Sem licença, a crença se tornou sinônimo de sobrevivência
de tanto amor, suor e calor, alimentamos cada vez mais o pudor
canetas e facetas, todas prontas para uma nova seita.
Arquivos, manufaturados e restaurados por todos os lados
buscamos procurar páginas amareladas que nos provem um lado
são abstratismos delinquentes e marginalizados que nos apontam.
Não fujo de uma claridade, não negamos a sobriedade
se encontramos todas as vezes que nos colocam sobre a parede
é uma pura verdade,
ser tudo aquilo que a mídia te obrigou a ter medo
Os grandes senhores esqueceram de apenas um detalhe.
Nas sombras, escombros, margens sociais de uma não lúcida civilização
vivemos todos como irmãos, se nos matamos, é por que temos fome.
E não! Pedras preciosas e seus importados, elas não alimentam o coração.
Ambas escritas em 2023.
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Fotografia do autor, São Paulo, 2023.
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