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. Tickets Free e o cão

Foto do escritor: Wesley BertolaiWesley Bertolai

Era sábado de manhã, ah mas que vontade de andar de skate que eu estava! Descer umas ladeiras, mandar uns slides, etc, etc. Em Poá, do lado da capital, ia rolar um camp de Downhill Slide, tinha combinado com o Vitor Punk de irmos até lá. Sabadão de manhã, não tem nada melhor do que acordar cedo para ir viajar de skate, íamos pegar a mini-van na frente do terminal São Paulo em Sorocaba. Essa mini-van, meio que clandestina, era a melhor opção barata para ir até a capital, pois além de mais rápida que o ônibus normal, ela também nos deixava de frente a rodoviária em Sampa, na Barra Funda. Nesse dia do rôle, meu pai estava indo para Sorocaba, então ele nos deu uma carona até o terminal, lá embarcamos na mini-van. O motorista ou estava com sono, ou com raiva, ou estava com muita pressa, por que ele dirigia muito rápido, e a mini-van estava lotada, foi foda, perigoso mas legal.

Chegando na Barra Funda em São Paulo, a gente tinha que esperar o Tchon colar lá, O Tchon tinha a mãe que morava lá em Sampa, então ele já estava por lá. Íamos com ele no campeonato domingo, ele já manjava andar bem pela cidade, porém ele disse que ia demorar um pouco, mas iria nos encontrar de carro com os cara da "Monkey". Então eu e o Vitor resolvemos tomar um litrão num bar ali perto. Num bar de esquina, bastante animado para um sábado de manhã. Enquanto tomávamos nosso primeiro litrão de cerveja, observamos que ali do nosso lado, havia uma mulher, “moradora de rua” que estava dançando sozinha e cada vez que alguém deixava seu copo “moscando” por exemplo, quando a pessoa ia no banheiro, aquela mulher ia e tomava um gole do copo, era engraçado, cascamos o bico por causa disso, pois as pessoas voltavam do banheiro e nem imaginavam.

Estávamos no segundo litrão, trocando ideia enquanto tocava um Amado Batista no som, ligamos pro Tchon, ele disse que já estava chegando, então matamos o copo e ficamos no aguardo dele. Depois de algum tempo, encontramos ele, entramos no carro e ali estava o Tchon e mais dois caras que não lembro o nome agora, pois nunca mais vi eles na vida até o momento. Mas eram super legais, eram muito firmeza mesmo, até nos deixaram dormir na casa deles. Se conhecemos lá, ficamos trocando ideia enquanto andávamos de carro por Sampa, demorou bastante para chegarmos na casa dele pois era bem longe dali, eles moravam em Morro Doce, na zona oeste. Conhecemos o bairro lá, chegamos na casa deles que também era a oficina da marca deles, a Monkey que é uma marca de Camisetas, bonés, meias, etc. de skate, inclusive patrocinavam o Tchon. Almoçamos lá na casa, brinquei com o cão deles lá fora e fui até a rua fumar um cigarro, como de costume.

Sabadão, não via a hora de andar de skate, depois de algum tempo enrolado lá na casa, fomos até o centro de São Paulo. Estávamos de carona com os caras da Monkey, ficamos esperando com eles, numa praça, para entregar umas caixas de produtos para uma mina do Downhill lá que eles patrocinavam. Enfim, depois de conversarem um pouco, dali fomos para a Roosevelt, e então já era noite e ali estava rolando um festival de DUB. Aquele lugar estava muito lotado, aliás, ali sempre está lotado. A Roosevelt é um dos lugares mais clássicos de skate no Brasil, mas eu não gosto não, é uma pista muito monótona ao meu ver, só tem caixotes e mais caixotes e algumas escadas, fora isso, é muita pouca opção. Mas enfim, não era o meu tipo de vibe no skate, mas fiquei lá tentando pular uma das escadas menores. Tinha um “carinha” lá com nós, amigo do Tchon, que se parecia muito com o Bryan Herman, e ele conhecia todo mundo ali na praça, é sério! Todos paravam pra conversar com ele, não dava pra andar do lado dele, era só conversa e mais conversa, haha… Enfim, esse cara, eu vi ele novamente no Rheumatic do ano seguinte, ele estava lá e eu vi ele dando um truck pra um moleque lá, como premiação. Estava sendo um role legal ali na Roosevelt, mas não podíamos exagerar, Vitor e Tchon iriam competir no camp do dia seguinte, então não ficamos muito tempo na rua. Fomos até o busão que nos levasse até o Morro Doce, e naquele busão, tinha uma mulher que realmente gostou do Vitor, pois eram elogios e mais elogios pra ele.

No Morro Doce, nem eu, nem ninguém estava afim de dormir tão tarde, mas também não podia deixar uma cervejinha de lado. Fomos até um bar ali próximo e ficamos tomando uns litrões. O Tchon não queria beber, pois queria estar inteiro pro camp, já o Vitor, o que mais queria era beber, pois assim, se sentia melhor para o rolê de skate do dia de amanhã, até porque já era de costume para o Vitor, beber e no dia seguinte andar de skate, Tchon já era o contrário, mas mesmo assim, tomamos algumas cervejas por ali. Eu estava de boa, não iria competir mas também não queria ficar muito chapado, Tchon comentou que tinha alguma mini ramp ali no morro, ou algo parecido, eu queria muito ir, mas acabamos não indo, por causa do horário. Depois de algumas cervejas, fomos dormir.

Domingo, acordamos cedo, comemos pão com mortadela(mussarela pra mim) da padaria, pegamos o busão, depois trem! Depois metrô, e depois trem de novo! E depois, novamente busão! Pois o trem estava com problemas naquela linha que nos levaria até Poá, tiveram que paralisar o trem e nos deram tickets free para o ônibus (Ainda bem, por que nosso dinheiro ali estava escasso, e ter que pegar mais um busão, seria foda). Ainda bem que Tchon sabia andar em São Paulo, por que foi uma confusão danada pra pegarmos o ônibus de graça. Chegamos em Poá, finalmente. Campeonato de Downhill, é sempre aquela ótima sensação!

Os camp de Downhill sempre atraíam as mesmas pessoas, era até engraçado mas ao mesmo tempo, você via como esse estilo de skate era como uma grande família. E nesse dia, estava realmente muito cheio, muitos skatistas no local, bem clima de capital. A gente acaba conhecendo muitas pessoas nesses eventos, e muitos que as ideias batem com a nossa, é bem louco pensar nisso, porque raramente você acaba trombando essas pessoas em outros lugares, e se não fosse as redes sociais, a gente nunca saberia o fim de nenhum deles. Lembro que nesse rolê, trocamos várias ideias com skatistas que acreditavam sobre o mesmo estilo de skate que nós: O Forfun e o Overall. Por mais que pareça comum do mundo do skate, não é, e realmente a galera que admira o skate como sua cultura de rua é, overall e forfun, são muito poucos. É coincidência ou não, eu estava escutando nos fones de ouvido a música “Somos extremes no esporte e na música” Um cypher de vários artistas aí das antigas. Se não conhece, conheça. E nessas conversas acabei conhecendo o skatista Swell. Eu e o Vitor trocamos muita ideia com ele nesse dia, sobre esse assunto, sobre o estilo de vida do skatista Forfun. Enfim, ele teve uma morte trágica, que esteja descansando.

E sobre o local, não tem muito o que falar, uma extensa ladeira que caía direto no centro da cidade, mas a parte que rolou o campeonato era só no começo da ladeira. Do outro lado da ladeira, como na maioria dos camps, também havia uma outra e menor ladeira para os mais iniciantes ou para treinarem manobras específicas. Tinha um cachorro lá bem legal, ele estava se divertindo como todos lá, não era do tipo que corria atrás dos skatistas, ele realmente estava lá animando as pessoas. Depois de algumas semanas, o Vitor me mostrou uma foto que tiraram desse cão, com um cigarro na boca e uma lata de cerveja do lado enquanto descansava. Aquele cão com certeza entrou no clima do Downhill. Tchon que estava preocupado por ter bebido no dia anterior, acabou ganhou em primeiro ou segundo lugar, não lembro direito, mas mesmo tendo caído em uma de suas voltas, a pontuação das manobras foram suficientes para fazê-lo ganhar a colocação. Eu lembro que Vitor comentou em algum momento “ É Tchon, vai ter que beber mais antes dos camp agora”. Foi engraçado.

No fim do rolê, conseguimos uma carona de carro com o dono da marca “Dual”, ele nos deixou em uma estação de metrô, não lembro qual. Enfim, isso foi ótimo para nós que ainda teríamos que voltar para Sorocaba nesse dia. A volta foi bem cansativa, e Tchon voltou com nós, feliz pela sua colocação no camp, mas ambos preocupados com a velocidade sem noção do motorista da mini-van novamente, foi engraçado.

No final, chegamos em Sorocaba, tomamos mais um litrão pra finalizar o fim de semana em um minúsculo bar de frente ao terminal. Lá ouvimos um cara conversando sobre garrafas. O Vitor até conhecia aquele cara, disse que era amigo do Horácio.

PS. Eu concordo com aquele cara, a estética das garrafas de cervejas são realmente muito bem projetadas.


Escrito em 2019 e editado em 2023.








Fotografias do autor: São Paulo e Poá, 2015.

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