Não era uma quinta-feira normal, pois no dia seguinte seria feriado, e todos que trabalham sabem como é bom um feriado prolongado, três dias em casa, você já pensa: cara, vou beber bem louco. Eu tava duro, o máximo que tinha era algumas moedas de 25, e muitas moedas de 10 e 5 centavos, tinha que comprar cigarro solto.
O dia no trabalho foi ruim, mas o pouco tempo sem fazer nada usei para ler um pouco de Bukowsky. A hora não passava rápido, mas finalmente olhei no relógio e eram quase 5 horas, ah finalmente! Em casa, tava na estiga para andar de skate, e como eu estava duro, contatei meu amigo Vitor Punk, que tinha recebido e disse que pagava o álcool pra pôr no carro, para irmos à pista do São Bento, lá do outro lado da cidade de Sorocaba. Ele falou para que passasse pegar um carinha que andava de skate, Vitor adorava arrastar os outros pro role de skate, desde o começo talvez, foi assim que viramos amigos. Fui pegá-lo na tal praça como de costume, mas ele não estava lá, esperei um pouco, e fui embora, no caminho para a casa de Vitor, meio que vi um carinha remando pra subir uma ladeira no gás, talvez seja o carinha, pensei. Eduardo era o nome dele, mas continuei porque o trânsito tava foda. Na casa do Vitor, esperando ele sair, abri o porta-malas para colocar o skate lá dentro e quando olho para trás o tal do Eduardo com uma cara de cansado e suando, foi engraçado, por causa de uma informação errada fui pegá-lo no lugar errado, mas deu para ver que ele realmente quer andar de skate, desde o Vossoroca até o Pq. Bela Vista remando tem que ter muita disposição.
Passamos na pista de skate das capivaras, pegar o "satan", ou melhor, o Luquinha Punk, até ai tudo normal, eu, Vitor, Luquinha e o Eduardo no carro, seguimos então sentido o Pq. São Bento para o tal role de skate. E andar naquele monza com esses caras era sempre divertido, zuar os outros na rua, buzinar para as pessoas fingindo que as conhecia, errar o caminho, esse último é o que eu mais fazia. No São Bento tinha uma pista com uma Mini Ramp muito legal, uma pequena transiçãozinha do lado esquerdo, e um street minisculo atrás, e uma ladeira muito boa para andar de Downhill ao lado da pista. Chegamos lá e encontramos o Tchon e sua amiga nos esperando para dar um role, como diz Vitor, "Tchon é um cara muito daora, ele só passa energias positivas pro role, curto andar com ele". Luquinha como sempre, chega engolindo a pista, parece que tem fome de andar de skate, adoro esses caras.
Andamos bastante, também apareceu o Fabricio, skatista pró old school de downhill, dono de uma das marcas mais conhecidas na cidade em relação ao skate, a Dropp!, na qual tinha uma mini ramp e um street no segundo andar da loja. Ele morava ali ao lado. Logo depois partiram para a ladeira Tchon, Vitor, Eduardo e fabricio, ficando eu e o Luquinha na mini ramp. Ah, e no meio disso tudo Hudson ligou pra mim dizendo que tinha encontrado um lugar com uma tal cerveja de garrafinha que custava 0,79 centavos, cara! Nessa época uma cerveja com esse preço era realmente imperdível, mas estávamos muito longe e o estoque já estava acabando, não daria tempo de chegar antes que fechasse o local.
Depois do role, e depois do Fabricio ter pagado um litrão pra nóis, no bar ali ao lado que tocava uns forrós muito estranho, fomos embora. O Mateus Pacotinho aquele do cabelo "black power" ligou pra nós, disse que queria nos pagar um litrão, então fechou! Só vamos levar o Eduardo embora, pois ele é muito novo, não bebe, não sabe oque perde. E na volta a mesma diversão de sempre, buzinas, caminhos errados e um trânsito maldito.
Chegamos no bar do Waldir como de costume, pegamos um litrão e um copo de São Francisco, e ficamos tomando, nada melhor depois de um role de skate. O bar tava meio parado nesse dia, normalmente é lotado, são muitas pessoas descarregando seu estresse semanal e trabalhista, todos se reúnem no mesmo lugar, o bar. Bin Laden estava lá, o cara que trabalhava com o Vitor, o patrão dele, um dos caras mais divertidos que conheci, muito gente boa, não aceitou um copo de São Francisco, diz que está parando com coisas fortes, ele sabe oque perde. Logo depois já no segundo litrão, eu acho, depois da esposa de Bin Laden e seu filho virem busca-lo no bar, mais um copo de São Francisco e chegou o Pacotinho, de longe parecendo estar rebolando, aquele cara estranho e ainda rebolando, rimos demais vendo ele. Disse que tinha caído mais cedo na pista de skate, por isso o rebolado.
E ali, estávamos nós, Luquinha já tava chapado, Pacotinho querendo falar mais alto que todo mundo, e Vitor bebendo.
- E então, oque vamos fazer depois daqui ?
Queríamos ficar bem louco, chapar em algum lugar, Pacotinho disse que tinha maconha pra nós, nesta época eu não fumava com tanta frequência, era bem difícil eu fumar, fazia já alguns meses que tava nessa. Vitor ultimamente tava com uma ideia maluca de subirmos na caixa d'água do Pq. Bela Vista para ficarmos lá em cima fumando, mas eu não quis, sugeri que fossemos para um pico da Light no qual só nós e no máximo umas 10 pessoas conheciam, todos adoraram a sugestão. Pegamos a última dose de são Francisco e algumas cervejas, e fomos.
A esse ponto, eu já estava chapado, e o caminho para esse pico, era perigoso, era como uma serra cheia de curvas e mais curvas, nada legal para um bêbado, mas era o caminho da Light, a represa da cidade onde todos tinham o costume de ir lá fazer churrasco e "chapar o melão" e depois descer aquela serra. Os caras foram fumando "um" no caminho curtindo um bom Punk Rock no último volume do carro. Como sempre, quase errei o caminho, pegamos a estrada de terra, cortando por um caminho que têm a cerca cortada é só cabe 1 carro ali. Chegamos lá bem louco e aquele frio do caralho, tava frio demais cara, foi sugerido ficar ali dentro do carro fumando, tomando e ouvindo um Punk Rock. Aquele lugar era demais, era talvez o lugar mais alto de toda Votorantim, dali se dava para ver pelo menos umas quatro cidades, a noite com a lua iluminando aquelas pequenas luzinhas das cidades, era incrível.
Depois de fumarmos mais um, acendi um cigarro e a este ponto eu já tava bem louco, não conseguia ficar parado, comecei a cantar e sai do carro e comecei a poguear sozinho bem louco, não deu muito tempo logo desceu Vitor e se juntou ao embalo, então todos estávamos lá fora pouco se fudendo para o frio, estávamos chapados e felizes, não sei bem oque aconteceu, me derrubaram e eu perdi meu isqueiro, e seria impossível encontra-lo naquela grama, malditos, logo depois eu derrubei o Vitor de um estrutura que segurava os pés da antena. Ah, tinha uma enorme antena ali, e o Vitor, ele estava ali sentado me falando coisas da vida, merdas e mais merdas, as merdas que gostamos, mas era inevitável, estar chapado tanto fosse de maconha ou bebidas, olhar aquela imagem das luzes das cidades e acima o céu estrelado com a lua, a linda lua. Por um momento estávamos todos parados ali fora apoiado no concreto da antena, e foi então que derrubei o Vitor, ele caiu que nem merda no chão e deu risada, deu muita risada, todos rimos, logo depois entramos no carro tomamos a última cerveja, fumei meu último cigarro e fomos embora.
Mas antes, passamos na padaria, uma padaria no centro na qual ficava aberta 24 horas, é o lugar que você vai e pode ser até assaltado se não ficar ligeiro. Chegamos lá, eu já entrei indo exatamente em direção ao banheiro, a vontade de mijar era muito grande. Quando saí do banheiro os caras estavam comprando pão, mussarela e presunto, seila. Eu e o Luquinha sentamos na mesa chapados, Pacotinho trouxe aquele saco de pão e não pensamos duas vezes, atacamos; Logo em seguida chegou Vitor. Eu já estava no segundo pão com mussarela, eis que então chega ele Pacotinho dizendo que seu cartão não passou! Então teríamos que passar o resto da noite lavando pratos, eu disse. Mas não, era só uma brincadeira, eu não tava nem aí, Luquinha também, estávamos dando risada, por nós, sairíamos dali como se nada tivesse acontecido, entraríamos no carro e bora pra casa. mas não, Pacotinho estava em choque, e Vitor também estava ficando em choque, que piratas são esses, que tem medo de sair de uma padaria sem câmeras e sem pagar. No final das contas peguei mais um cigarro solto, dividi com Luquinha.
Pacotinho deixou seu RG com a balconista. No final das contas, sempre tem uma solução.
Escrito em 2019.
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Fotografia do autor: Votorantim, 2015.
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